Quem sou eu? Sou aquela que tu não queres encontrar, mas cujo encontro é inevitável. Sou uma assassina, que trabalha diariamente varrendo do mundo almas, sejam elas boas ou não! E não que isso me agrade, simplesmente faço, porque é minha obrigação.

terça-feira, 2 de março de 2010

Quem sou eu?

Quem sou eu? Talvez não seja esta a pergunta mais pertinente. Gostaria de saber quem exatamente eu já fui, pois o início desta história começa justamente quando outra acabou. Não me lembro quanto tempo passou de lá pra cá, nem sei se isto importa, o fato é que estou indo para a residência dos Andrade, matar um por um, inclusive o menino de doze anos.

Não há nada que eu possa fazer. Confesso: essa situação sequer me agrada, mas não há alternativas, alguém tem de fazê-lo, e não que eu tenha desejado, mas nos últimos sete anos, dois meses, e onze dias, é a única coisa que faço. A uma média de cinco vidas tiradas por dia, lá se foram mais de duas mil e seiscentas vítimas. Parece muito? Acredite, não é. Há companheiras com uma média bem mais elevada. E pasmem, elas se divertem com isto. Competem umas com as outras.

Sinto em meu íntimo isso não deveria ser minha missão. O vazio onde um dia residiu um estômago continua fraco para coisas deste tipo. Meu nível de sadismo nunca foi elevado, e por isso fico chocada, a cada dia forçado de serviço. Uma escrava a serviço de quem eu já mais vi, que me é apenas um personagem oculto, cuja presença sempre tem de ser lembrada pelas supervisoras.

A casa dos Andrade é bonita. Um sobrado, com detalhes em tijolos à vista, e o restante pintados num tom de verde pêssego. É pena ver tão bela construção, que talvez tenha sido tão dificultosa para ser erguida sendo consumida em chamas ardentes. Aquele pequeno vazamento de gás ajudou-me. Do contrário teria de elaborar um planejamento mais detalhado. E às vezes doze horas são insuficientes.

Fico sabendo sempre um dia antes. Por isso tenho que dividir o dia em duas partes. A em que sou informada quem será a vítima, bem como todo seu histórico. É nesta etapa que planejo tudo. O fogo na casa dos Andrade não deixou nada em pé. Tudo virou cinzas, inclusive cada um daqueles que estavam destinados a morrer. Agora é só aguardar os próximos nomes. Meu trabalho não cessa nunca.

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