Quem sou eu? Sou aquela que tu não queres encontrar, mas cujo encontro é inevitável. Sou uma assassina, que trabalha diariamente varrendo do mundo almas, sejam elas boas ou não! E não que isso me agrade, simplesmente faço, porque é minha obrigação.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Paradoxo

Morrer é um paradoxo. Antes de sabermos que realmente chegou nossa hora, a morte nos parece tão distante, no entanto quando ela nos visita fica tão claro quanto é fácil morrer. Eu já morri. Obviamente vocês já sabem disso. Não lembro como foi. Apenas uma rodovia escura, a vegetação densa contornando suas curvas, e o som do motor aquecido, de uma provável longa viagem. Monótono é o único sentimento que consigo relembrar dos instantes finais, antes que a luz intensa invadisse minhas pupilas, e levasse a maior parte de minha memória.

Para trabalhar em meu serviço é necessário desgrudar-se de qualquer lembrança. Nenhuma ligação com o mundo da matéria onde os códigos de energia se transformam em carne e osso. Talvez seja pela complexidade do que temos que fazer, pois mesmo que se tente simplificá-lo será sempre uma tarefa para poucas.

Talvez por isso não haja homens entre nós. Eles são suscetíveis e emotivos. Já nós conhecemos a larga diferença entre a obrigação e o prazer, entre a repulsa e a necessidade de cumprir sua missão. Ouvi de uma colega, cujo castigo é longo, que outrora homens exerceram a função, mas isso faz tempo... Era a idade média ainda.

Estou muito dispersa hoje. É que não gosto de matar crianças. Um jovem de doze anos deveria ser proibido de morrer. Quantos caminhos ele poderia seguir, quantas coisas boas ele poderia construir... Mas como não sou eu quem faz as regras tenho de providenciar sua partida. Será um atropelamento, e queira que sua mãe não esteja próxima quando, pois não há lágrima mais ácida que a de uma mãe ao ver seu filho partir.

Em dias como o de hoje sempre questiono quando esta minha missão chegará ao fim? Quando meu castigo será extinto, para que possa finalmente seguir minha jornada, pois espero com toda fé que Ludmilla não esteja errada quando diz que isto aqui é apenas uma função intermediária, e que ainda há para onde ir.

Quando ainda estava viva alguns castigos de infância pareciam eternos. Mas só hoje sei o significado de eternidade. É a imagem daquela mão aos prantos segurando o corpo de seu filho no colo.

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